quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Medo.

Uma paciente de nove anos chegou ao consultório ontem para extrair dois dentes de leite que estavam atrapalhando o permanente de nascer. Resolvi não colocar a minha roupa branca e atende-la com minha roupa comum, apenas um jaleco por cima. Pedi que ela entrasse sozinha na sala e a acompanhante esperasse na sala de espera. Ela é minha paciente há seis anos. Falei que queria ter uma conversa de amiga com ela, pois ela tem muito medo de dentista e sempre chora quando precisamos fazer um procedimento mais complicado. Conversamos sobre ter medo. Ela me confessou ter medo de abelha e de dentista, sobre as abelhas é porque ela já foi picada por uma e doeu muito e sobre dentista ela não sabe. Eu contei a ela que eu por vinte anos tive medo de fantasma e fiquei muito triste quando descobri que esse medo me impediu de várias coisas e que os fantasmas só existiam na minha cabeça e que eu nunca vi nenhum. Perguntei se ela tinha religião e ela disse que não. Falei que ela tem muito poder na mente e que ela usasse esse poder para espantar o medo. Dei a ela uma pulseira de contas lilás e uma medalhinha de Cosme Damião que enfeita a pulseira que eu mesma fiz. Expliquei que essa é uma pulseira da coragem e que isso ia ajudá-la a ser forte durante a extração. Chamei a acompanhante que ficou encantada com a pulseira e que disse ser devota de Cosme Damião e a paciente disse que a cor preferida dela era lilás, a cor da pulseira. 
Quantas “coincidências”! O procedimento foi um sucesso e a criança corajosa não derramou uma lágrima. Abraçadas e emocionadas nos despedimos no final da consulta, quando ela estava saindo eu falei para ela cuidar da pulseirinha e ela respondeu: Nunca mais eu vou tirar a pulseira da coragem, mal sabe ela que quem aprendeu e ganhou mais coragem com essa história fui eu. Viva as crianças que são nossa luz neste mundo de ilusão.

Denise Portes

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