sábado, 26 de agosto de 2017

Crítica de Teatro: “ É Sobre Você também”


Está em cartaz na CASA RIO, o monólogo intitulado “É sobre Você Também” texto e atuação de Júlia Portes, sob a direção de Fernanda Alice , com a supervisão de Maitê Proença desde 29/07 devendo prosseguir até 20/08/2017.
Nada melhor para a avaliação de um artista do que um monólogo, onde todas as atenções concentram-se na figura do ator/atriz e onde o texto só poderá decolar se a atuação for bem conduzida e conseguir uma empatia com a plateia que sem dúvida exercerá cumplicidade em todos os momentos da peça, que a partir daí deixa de ser um monólogo. E isso acontece espontaneamente em “É sobre você também” , pois na medida em que Júlia vai desabrochando sua arte ímpar e sua monstruosidade gigante num corpinho de menina ela se transfigura em mulher e rasga um vestido de noiva, enfrenta um casamento , uma relação de pai e filha no mais destemido estilo Freudiano e sem que ninguém perceba mistura-se à plateia como uma pequena retirante comendo alface, acelga ou rúcula (não importa) no mais profundo momento da peça onde todos nós percebemos que o tratado do palco é sobre nós TAMBEM. E como que comovidos sentimos o desejo de coloca-la no colo e dividir seu prato de rúcula hidropônica parte a parte. Mas não dá , porque repentinamente ela nos sintoniza com a realidade gritante da prisão/ casamento que acaba de se libertar antes mesmo de se render e descola os dramas da relação pai e filha citando um momento marcante de sua infância , aquelas situações comuns aos casamentos estabelecidos que culminam na ameaça de violência que mesmo não consumada, tem o papel de um verdadeiro míssil cuja presença faz tremer nações poderosas , mesmo quando não atirado diretamente.
Julia nos brinda com momentos deliciosos e profundos como quando revela o desejo de seu pai de que fosse sempre melhor, e ela questiona se melhor do que os outros ou melhor do que ela mesma? Difícil responder.
A peça é sobre todos nós, e surpreende pela beleza e profundidade do texto, pelo humor refinado que flui na majestosa interpretação de Julia Portes confirmando a inesgotável e insubstituível expressão: “Nasce uma estrela”
Ademir Cunha (07 de agosto de 2017)

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